O DIA EM QUE A RURAL PAROU


 
Certo dia, a Rural ficou vazia,por um motivo que ninguém soube explicar; e ninguém foi para lá, estudar ou trabalhar. De verdade, nesse dia ninguém foi para a Rural. Ninguém.
A reitora não saiu para para trabalhar, pois sabia que os funcionários não estariam lá; o vice-reitor não saiu para ajudar a reitora, pois sabia que ela não estaria lá; os funcionários da Projest não saíram para trabalhar, pois sabiam que seus colegas também não estariam lá; ninguém da contabilidade foi trabalhar, pois todos sabiam, de alguma forma, que, naquele dia, eles não precisariam trabalhar; os departamentos dos cursos, as coordenadorias deles, nenhum deles abriram, pois sabiam que não precisariam trabalhar naquele dia. Um professor de História, foi levantar da cama, e, de repente, parou, olhou para o tempo, e dormiu de novo.Dentro dele, algo dizia que ele, naquele dia, não precisaria trabalhar; uma professora de Física Nuclear, às 23h do dia anterior, lembrou-se que teria de trabalhar cedo num projeto, estancou de repente, e sentiu que não precisaria trabalhar naquele dia, e ficou até de madrugada no Face, e depois assistiu um filme antigo, na Sky. Um professor de Ciências Sociais, ainda tomou café, e ia se dirigir até seu carro, mas uma força fez com que ele sentasse na cadeira e fosse assistir filme no Youtube. Os estudantes, todos de uma vez só, de repente, na mesma hora em que se vestiam para as primeiras aulas da manhã, tiveram desejos diferentes: uns foram para o bate-papo na Uol e no Instragram; outros, foram para a praia; alguns ficaram nas piscinas de seus prédios, ou foram para dormir de novo, ou foram para os shoppings, mas nenhum deles foi para a Rural, pois sabiam que os professores, coordenadores, não estariam lá também. Os funcionários da limpeza, todos de uma vez só, souberam que não precisariam trabalhar nesse dia, e foram fazer o que mais gostavam até de madrugada. Os vendedores das lanchonetes não abriram o comeŕcio nesse dia, pois sabiam que nenhum estudante iria para as aulas, e eles, precisando de uma folga, pensaram de uma só vez, que não valeria a pena ir abrir seus comercios, sem que vissem os estudantes por lá. Os guardas dos portões, o RU, ninguém mesmo, foi para a Rural.Ela ficou vazia, como se não funcionasse ali uma universidade pública. O mais curioso é que ninguém ligou para perguntar nada, as pessoas que passavam lá fora não estranharam nada. Era tudo normal para eles.
No outro dia a Rural abriu e funcionou normalmente. Ninguém perguntou nada, se lembrou de nada; não parecia que, no dia anterior, nada nela funcionou. Ninguém perdeu dinheiro por isso, não foi descontado no salaŕio, nem sequer foi registrado nada sobre esse dia. Foi um dia perdido na Rural. Nunca mais isso ocorreu de novo.


Por J. Mou

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