MARVIN


Meados de 80. Onde morava sempre se escutava músicas da casa do vizinho, pois colocavam bem alto., e não havia ainda essa cultura de discar o190 para chamar a polícia por causa da zuada.
Eu ouvia, assim, muita música MPB,pois naquele tempo ela ainda tinha algum sentido, não como hoje, onde se ouve poucas de qualidade.  Muitos grupos haviam despontados: Titãs, Radio Taxi, Barão Vermelho... Letras lindas, mas vim a entender elas anos depois, pois ainda era uma criança na época.
Uma música dos Titãs falava bem forte para mim, não tenho certeza a razão que ela me fascinava tanto, mas me tocava pacas: Marvin, desse grupo. Tocava demais cara! A casa de onde o som saía ficava uns dez metros da minha e eles tocavam o som bem alto. Muitas vezes ficava do sofá só escutando viajando na  letra.Essa eu entendia bem. Marvin. Dizia o coro: "Marvin, agora é só você, eu fiz o meu melhor, e o seu destino eu sei de cor." Parecia que o conselho era para mim, talvez pelas dificuldades parecidas, minhas e do personagem da estória, que evocava uma vida sofrida. Parece que eu sentia no peito aquilo, e antevia um sofrimento pela frente. Era meu destino e do Marvin juntos. Caminhávamos na mesma estrada. E eu não cansava de ouvir a música, tão tocante era para mim. O pai de Marvin parecia meu pai, sofrendo para manter a família. Vejam como eu fazia a comparação. Talvez isso fosse uma razão forte para me sentir como o personagem da estória.
Eu não via apenas como uma música, de alguma forma eu via aquilo como uma profecia, uma lição de vida.As músicas evangélicas quase não evocavam temas assim, e eu as conhecia bem, fui criado na igreja Assembleia de Deus, vivia nos cultos e tudo o mais. Só um ou outro cantor cantava temas assim. Era tocante ouvir essa banda tocar. Não sabia de nada, nem tinha idade para conhecer eles, mas essa música ia lá no centro do peito e dizia para mim que aquele destino bem poderia ser o meu, tinha algo que ver comigo.
Marvin também era eu.
E ia seguindo escutando ela, gostando da lição de moral daquela estória. Uma triste estória, mas que era marcante. Anos depois vim a saber que o grupo se chamava Titãs, bem conceituado e que gravaram outras músicas também muito belas, Mas nenhuma me tocou tanto quanto Marvin e o seu destino duro como pedra.

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